
Tendência criativa em algumas capitais brasileiras, a exibição de filmes com música ao vivo poderá ser vivenciada na estreia do “RessoaCine” neste sábado (23), às 17 horas, no Sesc Cadeião, em Londrina. O projeto ainda promove no domingo (24), às 16 horas, a palestra “O som e o cinema”, com o designer de som Luiz Lepchak, de Curitiba, e bate-papo sobre processo criativo com a equipe realizadora. A entrada é gratuita para os dois eventos.
Patrocinado pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic), da Prefeitura de Londrina, e com apoio do Sesc e do Museu Histórico de Londrina “Padre Carlos Weiss”, o projeto ainda prevê mais duas apresentações no mesmo local: 17 de outubro e 12 de dezembro, sempre às 19h30, integrando a programação cultural do Sesc. Como contrapartida do projeto, foram realizados no primeiro semestre três ensaios abertos e gratuitos ao público.
Com uma proposta estética inovadora e imersiva, o RessoaCine apresenta um diálogo entre a história de Londrina, do cinema e do jazz, tendo como recorte temporal a efervescência do início do século 20. No palco, o público poderá ver projeções mapeadas com trechos de filmes sobre Londrina do imigrante japonês Hikoma Udihara – registrados de 1930 a 1960 -, e curtas clássicos do cinema mudo de Charles Chaplin e Buster Keaton: The Vagabond (1916), A Busy Day (1914) e The Balloonatic (1923), respectivamente. Já a parte musical será realizada pelo quarteto de jazz Mão Rítmica Azul (Vinícius Lisboa/contrabaixo, Paulo Turazzi/guitarra, Daniel Loureiro/guitarra/flauta e Ivan Seyr/bateria).
“O público será convidado a explorar a interação entre som, imagem e história, percebendo as nuances da improvisação musical em sincronia com a narrativa visual em uma viagem sensorial e temporal única”, adiantou Angélica Cristtina, responsável pela direção artística e pelo videomapping, técnica que consiste na projeção de vídeo em objetos ou superfícies irregulares, tais como estruturas de grandes dimensões e fachadas de edifícios, por meio de software especializado.
A ideia do projeto surgiu quando Angélica, que também é jornalista e roteirista, participou junto com os músicos Vinícius Lisboa e Paulo Turazzi de uma oficina sobre som direto, no ano passado, ministrada pelo compositor e designer de som Luiz Lepchak, que assina a curadoria. “Ali eu me encantei com as possibilidades narrativas do som e, conhecendo o talento dos músicos presentes, vi a chance de criar algo único”, revelou a diretora artística.
“O poder do som e da música em ressignificar a imagem é muito grande e isso torna o nosso projeto bem interessante porque não dá para prever uma relação que está acontecendo ao vivo, acompanhando o que uma imagem sugere ou contrastando isso”, pontuou o designer de som Luiz Lepchak.
Como ressaltou a diretora, o cinema revolucionou a maneira como as histórias eram contatadas e vivenciadas. E Hikoma Udihara foi um dos impactados por essa nova linguagem, tornando-se o primeiro cineasta em terras londrinenses.
“Eu me dei conta de que era possível criar um diálogo entre as primeiras imagens de Londrina feitas pelo Hikoma Udihara, o surgimento do cinema e do jazz no início do século 20”, lembrou Angélica. “O desafio foi unir essas linguagens com novas tecnologias e ‘expandir’ as narrativas para além da tela”, ressaltou.
Palestra – Na palestra “O som e o cinema”, que será realizada no domingo (24), às 16h, com bate-papo sobre o processo criativo, serão abordados mais detalhes sobre a pesquisa de Angélica para o projeto, que incluiu a análise e identificação de eixos temáticos da obra de Hikoma Udihara, para nortear tanto o trabalho de curadoria, como a criação visual e sonora do espetáculo.
“Nesse estudo, além das temáticas predominantes, foi possível reconhecer gestos estéticos e simbólicos que fazem parte da poética visual do Udihara. Por meio das imagens que analisei, buscamos encontrar momentos da incipiente Londrina que ressoavam o que acontecia ao redor do mundo e vice-versa”, revelou a diretora.
“Com o projeto, podemos replicar esse trabalho na contemporaneidade, lembrando que foi a partir de 1927 que os filmes passaram a ter sons sincronizados”, acrescentou Lepchak.
RessoaCine ainda é composto pelo seguinte elenco: Luciana Ramin (consultoria), Nathalia Arriero (arte), Bianca Baggio (cenografia), Mari Franco (técnico de som), João Leite (contrarregra), Emilly Kono e Luciana Buratto (produção).