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Apesar do sucesso

Oasis: um faixa-a-faixa de ‘(What’s the Story) Morning Glory’, por Noel Gallagher

Não à toa, é o trabalho mais representado no setlist da atual e aclamada turnê de reunião, com oito de suas 12 faixas marcando presença nos shows

DA REDAÇÃO • 02/10/2025 às 10:10

Oasis: um faixa-a-faixa de ‘(What’s the Story) Morning Glory’, por Noel Gallagher
Capa de (What's the Story) Morning Glory?, álbum do Oasis. (Foto: Michael Spencer Jones)

Segundo álbum de estúdio do Oasis, (What’s the Story) Morning Glory? também é sua obra mais popular. O disco, lançado em 2 de outubro de 1995, compila hits do porte de “Wonderwall”, “Don’t Look Back in Anger”, “Some Might Say” e “Roll with It”. Não à toa, é o trabalho mais representado no setlist da atual e aclamada turnê de reunião, com oito de suas 12 faixas marcando presença nos shows.

Apesar do sucesso — traduzido em mais de 22 milhões de cópias vendidas mundialmente —, o processo foi conduzido de modo acelerado, com cerca de 15 dias para gravar tudo. Toda a rotina, incluindo também mixagem e masterização, levou aproximadamente um mês.

(What’s the Story) Morning Glory? marca, ainda, a estreia de Alan White como baterista, substituindo Tony McCarroll, embora este participe de “Some Might Say”. Paul Weller, guitarrista da The Jam, tocou como convidado especial em “Champagne Supernova”, além de ter ficado a cargo da gaita nas faixas instrumentais conhecidas como “The Swamp Song”.

Guitarrista, único compositor e coprodutor do disco, Noel Gallagher foi convidado, em 2020, a reouvir o material e comentar todas as músicas para um vídeo, disponível no canal do Oasis no YouTube. O artista, inclusive, admitiu na ocasião que simplesmente não parou para escutá-lo desde 1995.

As declarações foram transcritas pela Rolling Stone Brasil e, na ocasião do 30º aniversário de lançamento do álbum, podem ser conferidas a seguir.

Noel Gallagher e um faixa-a-faixa de (What’s the Story) Morning Glory?, do Oasis

1) “Hello”

Noel Gallagher: “Lembro-me de ter gravado um demo dela com o Mark Coyle [engenheiro de som]. Fiquei realmente impressionado com o refrão hoje — quando cheguei nessa parte pensei: “uau, p*rra”. ‘Hello’ é uma puta abertura de show; é um olá, percebe o que quero dizer? Não ouvia a faixa de abertura desde — acho que a tocamos uma vez no Finsbury Park, em 2000. E quando começou, pensei: ‘uau, p*rra’. É uma música realmente ótima. Essa canção é mesmo sensacional”.

2) “Roll With It”

NG: “Lembro que a primeira coisa que gravamos foi ‘Roll With It’. Foi a única música que gravamos ao vivo no disco. E fizemos do mesmo jeito que em Definitely Maybe (álbum de estreia, de 1994). A versão que está no disco é a segunda execução nossa. A primeira tomada foi fantástica pra caralho. Aí na segunda tomada, o Owen (Morris, coprodutor) disse: ‘uau, querem fazer outra?’ e a gente: ‘vamos lá então’. Alguém fez algo que ficou melhor na segunda tomada e pronto. Alan White tinha acabado de entrar na banda, ele praticamente não conhecia ninguém. Estava ali no meio de um bando de mancunianos [oriundos de Manchester] do car#lho. Ele é cockney [vindo da East End de Londres]. Foi o primeiro dia dele no estúdio com o Oasis, e saiu aquilo tudo — parecia que ninguém tava nem aí. Claro que ia funcionar, ia ser ótimo. Sabe, não havia esse papo de: ‘p*rra, temos um baterista novo, temos que adaptá-lo’ e toda essa m#rda. Foi simplesmente: não, isso vai funcionar porque eu disse que vai funcionar e, portanto, vai funcionar.”

3) “Wonderwall”

NG: “Sentei em um muro [‘wall’] ao gravar esta. Era um completo idiota tocando ‘Wonderwall’. Lembro que um monte de ovelhas estava me olhando tocar. Não sei quem ficou mais perplexo, eu ou as ovelhas. Lembro de estar lá cedo de manhã, subir no muro e pensar: ‘que p#rra, que ideia estúpida’. Tive a ideia na noite anterior. E lembro de ter dito pro Owen: ‘tenho uma música chamada ‘Wonderwall’ e quero gravar isso em um muro (wall)’. Lembro que estava muito frio e que disse no microfone pro Owen: ‘acho que isso é uma ideia de m#rda’. E ele dizia: ‘não, soa incrível’. P#rra, f#da-se. Foi isso que tornou a coisa especial. Dá para ouvir bem no comecinho do álbum os pássaros cantando.”

4) “Don’t Look Back in Anger”

NG: “Na turnê de Definitely Maybe, um cara que trabalhava pra gente em Nova York pela gravadora tinha um irmão que tinha uma fita cassete de John Lennon conversando no prédio Dakota, pouco antes de ele morrer. Nessa fita, John Lennon diz as palavras: ‘they’ll tell you that the brains you’d had have gone to your head’. Essa frase ficou comigo. E pensei: ‘vou morrer se não conseguir colocar isso numa música de algum jeito’. Esse verso sempre me pegou, por isso os acordes de piano de ‘Imagine’ aparecem no começo como uma referência. Compus essa música em Paris, depois de uma noite num clube de strip. Então sempre me perguntam se a Sally é uma stripper. Parece algo de um filme pornô. Mas não sei quem é a Sally. Anos depois, alguém veio falar comigo e disse que era uma tal de Sally — Sally Sinner — e eu pensei: ‘f#da-se, brilhante’. A guitarra com que toquei essa música era uma Strat que um amigo me deu: Johnny Marr (The Smiths). E o amplificador é um Vox AC30 de 1963 que foi o amp do Cavern Club (onde os Beatles se apresentavam no início da carreira). Eu comprei de um dos integrantes do The Hollies. Por isso soa tão incrível. Já aconteceu de eu subir no palco pra cantar a primeira frase dessa música e simplesmente parar, pois a plateia inteira cantou do começo ao fim. Essa música é louca. É totalmente louca. Nem sei o porquê. Vai saber. Tem mágica.”

5) “Hey Now!”

NG: “Havia uns acordes que a gente curtia improvisar nas passagens de som. Lembro de ter tocado uma vez no Marquee. É uma música meio estranha — tem acordes esquisitos e, hoje, ouvi um sintetizador nela. A gente nem tinha sintetizador, então fiquei no trem, a caminho daqui, pensando: ‘quem diabos está tocando isso?’. Mas, de novo, tem uma letra ótima. Pensei nisso hoje: ‘I took a walk with my fame down memory lane, never did find my way back’ (‘Eu dei um passeio com a minha fama pela estrada da memória, nunca encontrei meu caminho de volta’) — umas rimas bem boas nessa música. Deve ter sido uma das que compus antes da fase no estúdio, porque tem muita letra.”

6) “The Swamp Song — trecho 1”

NG: “Não sei por que se chama ‘The Swamp Song’. Era só uma coisa com que a gente brincava. Aparece e desaparece em alguns pontos do disco. E eu pensei ‘uau, isso tá legal’.”

7) “Some Might Say”

NG: “Você lembra de uma banda chamada Grant Lee Buffalo? Ninguém lembra. Era uma banda indie americana pós-grunge. Não sou fã, mas tinham uma música chamada ‘Fuzzy’. Dá pra ver que ela influenciou ‘Some Might Say’. Eu posso ficar obcecado por uma música por anos e acabar plagiando ela 12 vezes; eu tiro da mesma música umas 12 músicas diferentes. Tudo o que faço é uma referência a algo. Não sou um gênio — sou fã de música. Paul McCartney é um gênio. A p#rra do Morrissey e Bob Dylan são gênios. Eu sou fã deles. Levo jeito para juntar as coisas, mas não sou pedante sobre de onde vem. Nada é original — só existem 12 notas, afinal de contas.”

8) “Cast No Shadow”

NG: “Na minha cabeça, quis que ‘Cast No Shadow’ soasse como Pink Floyd, porque os acordes são iguais aos de ‘Wish You Were Here’. Os acordes de abertura são os mesmos. Hoje ouvi e soa meio que inacabado pra mim. Tem um lance country e ficou meio no limbo entre dois estilos. Mas é uma música incrível. Algumas das melhores frases que já escrevi aparecem ali: ‘Bound with all the weight of all the words he tried to say; Chained to all the places that he never wished to stay’ (‘Preso a todo o peso de todas as palavras que ele tentou dizer; Acorrentado a todos os lugares em que ele nunca desejou estar’). P#rra, não lembro de ter escrito isso. Mas quando ouvi hoje, pensei: ‘caramba, é bem feito’. É uma frase profunda. Escrevi por instinto, sem pensar muito. Pena que não tem uma segunda parte de letras. Quando gravamos esse álbum, The Verve — ou o nome que eles usavam antes desse — tinha acabado de se separar (em 1995) e foi uma briga feia; Richard (Ashcroft, vocalista) levou aquilo pra cima e ele era próximo do Owen — dedicamos essa música a eles.”

9) “She’s Electric”

NG: “Foi composta na época de Definitely Maybe, mas foi deixada de lado ao vivo por causa de ‘Digsy’s Dinner’, porque ‘Digsy’s Dinner’ soava melhor ao vivo por ser menos complicada. De novo, tem uma letra ótima; não sei como inventei aquilo. É meio sessentista, tem uma história e é bem britpop. E ouvir o Liam (Gallagher) naquela extensão vocal alta, caramba, é impressionante.”

10) “Morning Glory”

NG: “Na turnê de Definitely Maybe eu conheci uma garota nos Estados Unidos; quando nos víamos ela dizia: ‘hey, what’s the story, Morning Glory?’ (algo como ‘bom dia, qual é a boa, flor do dia?’). Não faço ideia do que aquilo significava. Falei com alguns jornalistas americanos ontem e eles disseram que nunca tinham ouvido isso na vida. Pensei que fosse tipo um ‘top of the morning to you’ (expressão inglesa que significa ‘tenha um ótimo dia’) dos Estados Unidos, algo assim. Acabei encaixando a frase na música. Por que virou o título do álbum? Não sei. Lembro daquele verso: ‘all your dreams are made when you chained to your mirror and the razor blade’ (‘todos os seus sonhos são feitos quando você está acorrentado ao espelho e à lâmina de barbear’) — ouvi hoje e senti que estava naquele estado em que tudo que eu escrevia fazia sentido.”

11) “The Swamp Song — trecho 2”

NG: “A transição de ‘Morning Glory’ para ‘Champagne Supernova’, onde tem aquele helicóptero e depois o som da água batendo na praia… não sei por que, mas devia ter algum motivo. Os shows da turnê desse álbum começavam com o som do helicóptero — eram momentos arrepiantes, porque, quando tocava, sentíamos que algo ia acontecer, aquela tensão. Eu curtia efeitos sonoros. Agora entendo por que esse álbum mexe com a molecada de 14 anos hoje. Não há muitas bandas fazendo algo assim agora. Até as bandas que usam guitarras não fazem coisas assim. Percebi isso hoje pela primeira vez em 25 anos.”

12) “Champagne Supernova”

NG: “Depois que saímos do estúdio, fomos pro circuito de festivais para seguir capitalizando a era Definitely Maybe. Encontramos Paul Weller e Steve Cradock e essa galera, e lembro de estar no fundo de um ônibus de turnê mostrando as mixagens iniciais das músicas novas para eles. Paul disse ‘vou tocar nesse disco’, então veio e tocou — ele achou que tocaria em ‘Morning Glory’, mas ‘Champagne Supernova’ estava pedindo um solo de guitarra porque o meu era péssimo. Ele tocou — e graças a Deus ele tocou! Ninguém sabia como ‘Champagne Supernova’ ia ficar; era uma música de sete minutos e ninguém tinha ouvido. Eu nem a tinha terminado. Só tinha verso, refrão e uma pequena passagem de guitarra na cabeça. Você trabalha por instinto quando jovem; não pensa muito. Meu instinto dizia que ficaria ótimo, então fomos e fizemos. As cinco ou seis primeiras faixas são tipo: ‘uau’. Você tem ‘Wonderwall’ — p#rra, estamos indo bem logo de cara. ‘Don’t Look Back in Anger’ parecia ‘p#rra, será a terceira música do verão’. Mas é tudo bom. Pensei: ‘caramba, entendo por que 22 milhões de pessoas compraram esse disco’.”

Informações: Rolling Stone

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